quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Feliz Ano Novo!

Último dia do ano de dois mil e oito. Ano de muitas, muitas realizações!
Mas façamos uma breve pausa: por que os homens desejam que o Ano Novo seja da forma "X" ou "Y"? Não, isso não está certo!
Acho que nós deveríamos dizer: "Desejo que o seu ano novo NÃO seja assim, nem assim, nem assim...". Ué, Douglas, dá no mesmo... Não, não dá no mesmo!
O ser humano é movido por instintos, desejos... E o nosso ego anseia pela realização de tais desejos. Quando fazemos planos que não são cumpridos, a sensação de frustração é inevitável...
Sem contar que é muito mais legal quando atingimos uma meta que sequer pensávamos que tal fato era uma meta em nossa vida... Diria já Paulinho Moska: "ENTÃO ME DIZ QUAL É A GRAÇA DE SE SABER O FIM DA ESTRADA QUANDO SE PARTE RUMO AO NADA?"
Partamos também nós rumo ao desconhecido. Não coloquemos metas tão exigentes em nossas próprias vidas. Deixemo-las acontecerem por si só!
Saiba o que você NÃO quer. Digo e repito: é a partir do instante em que você sabe o que você NÃO quer que a sua vida começa a tomar algum rumo. saiba quais itens deverão estar fora da sua vida na nova jornada. Ué, você tem mais 365 dias creditos na conta da sua vida. Se vc vive os 365 sem nada fazer, é problema seu. O saldo volta a zero!
Saiba delimitar quais coisas você não quer mais que façam parte de sua vida. Limpe a casa! Arrume o armário da sua vida... Tire tudo que é lixo, jogue os rascunhos fora, cara! Só deixe sobre a mesa folhas em branco, saiba que você é o escritor de sua vida! Não existe pré-determinação em termos de vida. É você quem escreve o próximo capítulo da sua vida.
A próxima novela está para começar em menos de 24 horas. Quem vai dita as regras é você! O vilão, a mocinha, a grávida, a puta, o fortão, a gostosa, o prefeito, todos os personagens dessa novela são seus! Aprenda a escrever!
Você pode não gostar de escrever, mas teve que fazê-lo algumas vezes na escola. E quanto à vida é ainda pior: ninguém te perguntou se você queria fazê-lo e ninguém vem a cada bimestre dizer se você está tirando nota azul ou vermelha... Nessa redação, você não tem borracha nem líquido corretivo. Apenas uma caneta! E diga-se de passagem: a caneta só tem UMA cor! O tom mais forte, mais fraco depende de como você pressiona a caneta frente à folha de papel...
Tá, tudo bem, todos erram... Mas não pegue a caneta e risque o seu erro. A folha vai ficar horrível com aquele borrão no meio da composição. É mais adequado que você, numa outra linha, diga o que você, de fato, queria dizer, só que agora com outras palavras, mais explicitamente.
Lembre-se: quem escolhe os personagens também é você! Só existe um grupo de pessoas as quais você não escolhe: família! Quanto a todas as outras, é sua função fazer a listinha!
Mas voltemos ao argumento: o critério para 2009 não é o da afirmação, mas o da negação. Não faça lista de metas para 2009, faça lista do que você quer que NÃO se repita em 2009!
Aí fica mais fácil: o que vier é lucro!
Se você exclui todas as opções ruins, só sobram boas e ótimas opções... kkk
Bem, fiquem com um texto muito profundo, de um escritor português, José Régio, que fala exatamente desse assunto:

Cântico negro
José Régio
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Vivendo com persona

Oi. Meu nome é Pedro Luís. Sou brasileiro, solteiro e complexo. Tenho 27 anos. Não que minha idade seja avançada, mas certamente tem um peso na minha história de vidas que contarei aos leitores desse blog. Na primeira década do século XXI, eu levo uma vida grega! Grega porque minha perfomance diária é digna dos atores atenienses em épocas remotas...
Ah, eu não sou apenas eu! Eu sou eu e sou "ele"... "Ele" porque existem dois "pedros" num só! Olha, que espetáculo! Quando a platéia espera anciosa por minha atuação, eu entro com "persona", a máscara que me confere uma outra personalidade. E então eu falo, grito, converso, gesticulo, brinco, dou risada, corro, sofro, pulo, durmo e... E morro! Aproveito-me também, diariamente, da lição que nos trouxe a mitológica Fênix: eu sempre morro, para então renascer!
Afinal, hoje é Natal neh?! Pois é... Dia de morrer! Por mais que minhas palavras induzam o leitor a crer que estou volvendo-me louco por falar em MORRER no Natal. Mas, pensemos bem: morramos todos para renascermos! Ainda que das próprias cinzas!!! Enterremos nossos mortos, deixemo-los partirem, possamos dar-lhes o merecido descanso. E permitamos que renasça aquele fio belíssimo de esperança, verdinho verdinho, que se encontra lá dentro de nossos corações...
E quanto à persona, voltemos... É bem verdade que eu deveria ser um caso para o doutor Freud. Sigmund ficaria fascinado em analisar o meu caso. É por essas e outras que digo que algumas pessoas deveriam ser imortais... É... Alguns seres humanos como Sigmund Freud não poderiam morrer jamais! Entretanto, é a lei da vida! O circle of life, o ciclo da vida, como diria nosso amigo Simba...
Argumento, destarte, por um motivo muito simples: sofro de múltiplas personalidades! Não que eu mude meu humor com facilidade como alguns, irritantemente, o fazem. Lo que pasa es que pareço ter me viciado em leituras do tipo Dr. Jekyll and Mr. Hyde! Há vários indivíduos aprisionados aqui dentro... Há vários "pedros" que entram em conflito a todo instante... E confessar-lhes-ei: essa "síndrome de Fernando Pessoa" mata, ainda que aos poucos, mas mata! É um estranho e deprimente caso clínico.
Lembro-me, por um instante, do meu poema favorito: AUTOPSICOGRAFIA, do Pessoa. É um textinho pequeno, mas sempre me chamou a atenção. Observemos:
AUTOPSICOGRAFIA (F. Pessoa)
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Há duas dores no poeta. Ou seriam dois poetas para uma dor única? Enfim, fato é que essas duas "coisas" convivem aqui dentro. Brigam, com certa freqüência, vale dizer... Mesmo porque, como afirma Pessoa, há uma dor que o poeta NÃO tem. Essa dor, após ser criada, ela vai se tornando cada vez mais e mais real. Até que chega um ponto em que naturalidade e artificialidade (em termos de dor) se tornam conceitos indissociáveis. O poeta não distingüe se a dor que está sentindo naquele momento é a dele ou é a criada... E é bem verdade que, no fim das contas, ele acaba sofrendo por ambas!
E tem mais... Não é apenas a dor que é criada (e recriada). Os personagens também! Só que, após algum tempo, a persona não sai mais do rosto... A máscara gruda, com o suor da pele, no rosto do ator. E, a partir desse ponto, fica quase impossível que Mr. Hyde volte a ser Dr. Jekyll. Ele não consegue! As personalidades acabam se fundindo... E mais complexo: o ser que seria o misto entre Jekyll e Hyde ama e odeia chocolate. Os gostos, os ódios, os amores, os rancores, as paixões, as emoções, tudo se funde! Resulta que o estágio final desse "ser" não responde às leis da razão (seja lá quais forem essas!)...
Some a isso o fato de o "monstrinho" ter que usar seu lado "Jekyll" (o lado do "disfarce") para a pessoa mais importante em sua vida. Ufa! Essa é a parte mais complexa de todas! Usar um pseronagem com pessoas amadas. Seria tão mais fácil se a dita pessoa aceitasse ver o que há por trás daquela máscara. E aceitar como ela é!
Mas não... As pessoas curtem ser enganadas e gostam de máscaras. Preferem o conforto que o "papel" traz ao estresse que o "real" produziria. Confesso também que há uma certa irritação em meu tom de voz ao descrever essa parte da minha vida. Tenho uma vontade de dar umas sacudidas na pessoa e dizer: "Acorda, vê que esse não sou eu...". Mas acho que não adiantaria. Ainda que eu atirasse a máscara no chão (como já tentei), ela pegaria a máscara de volta e diria "Põe isso na cara agora mesmo! E nunca mais ouse a tirar a persona do rosto!".
O que me resta é pegar a máscara de volta e pôr no rosto outra vez. Abaixo a cabeça então e saio da sala, com o rabo entre as pernas. Ao que parece, as pessoas querem saber da Donatela, não interessa quem seja ou como esteja a Cláudia Raia. É mais fácil para as pessoas fazerem chacota que o casamento da Suzana Vieira era uma piada porque ela era uma velha pra ele do que pararem para observar, no próprio rosto daquela mulher nas capas de revistas, o sofrimento pela perda do ex-marido.
Mas que diabos pensam essas pessoas? Ah, como poderia me esquecer?! A onipotência humana... O homem é programado para ser máquina! E atender a todos os anseios da sociedade: como diria um livrinho de Ciências: (assim como as plantas) o ser humano nasce, cresce, se reproduz e morre...
Será? E se eu tirar a máscara? Olha que eu tiro hein?!

sábado, 20 de dezembro de 2008

O doido da garrafa - ADRIANA FALCÃO

Ele não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas as outras pessoas do mundo insistiam em dizer que ele era doido.
Depois que se apaixonou por uma garrafa de plástico de se carregar na bicicleta e passou a andar sempre com ela pendurada na cintura, virou o Doido da Garrafa.
O Doido da Garrafa fazia passarinhos de papel como ninguém, mas era especialista mesmo em construir barquinhos com palitos. Batizava cada barco com um nome de mulher e, enquanto estava trabalhando nele, morria de amores pela dona imaginária do nome. Depois ia esquecendo uma por uma, todas elas, com exceção de Olívia, uma nau antiga que levou dezessete dias para ser construída.
Batucava muito bem e vivia inventando, de improviso, músicas especialmente compostas para toda e qualquer finalidade, nos mais variados gêneros. Uai aí aquela da mulher de blusa verde atravessando a rua apressada, e o Doido da Garrafa imediatamente compunha um samba, uma valsa, um rock, um rap, um blues, dependendo da mulher de blusa verde, do atravessando, da rua e do apressada. Geralmente ficava uma obra-prima.
Gostava muito de observar as pessoas na rua, do cheiro de café, de cantar e de ouvir música. Não gostava muito do fato de ter pernas, mas acabou se acostumando com elas. De cabelo ele gostava. Em compensação, tinha verdadeiro horror a multidão, bermudão, tubarão, ladrão, camburão, bajulação, afetação, dança de salão, falta de educação e à palavra bife.
Escrevia cartas para ninguém, umas em prosa, outras em poesia, como mero exercício de estilo.
Tinha mania de dar entrevistas para o vento e já sabia a resposta de qualquer pergunta que porventura alguém pudesse lhe fazer um dia.
Ajudava o dicionário a explicar as coisas inventando palavras necessárias, como dorinfinita.
Adorava álgebra, mas tinha particular antipatia por trigonometria, pois não encontrava nenhum motivo para se pegar pedaços de triângulos e fazer contas tão difíceis com eles.
Conhecia mitologia a fundo.
Tinha angústia matinal, uma depressão no meio da tarde que ele chamava de cinco horas, porque era a hora que ela aparecia, e uma insônia crônica a quem chamava carinhosamente de Proserpina.
Sentia uma paixão azul dentro do peito, desde criança, sempre que olhava o mar e orgulhava-se muito disso.
Acreditava no amor, mas tinha vergonha da frase.
Às vezes falava sozinho, Preferia tristeza à agonia.
Todas as noites, entre oito e dez e meia, era visto andando de um lado para o outro da rua, método que tinha inventado para acabar de vez com a preocupação de fazer a volta de repente, quando achava que já tinha andado o suficiente. (Preferia que ninguém percebesse que ele não tinha para onde ir.) Enquanto andava, repetia dentro da cabeÇa incessantemente a palavra ecumênico sem ter a menor idéia da razão pela qual fazia isso.
Durante o dia o Doido da Garrafa trabalhava numa multinacional, era sujeito bem visto, supervisor de departamento, ganhava um bom salário e gratificações que entregava para a mulher aplicar em fundos de investimento.
No fim do ano ia trocar de carro.
Era excelente chefe de família.
Não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas sempre que ele passava as outras pessoas do mundo pensavam, lá vai o Doido da Garrafa, e assim se esqueciam das suas próprias garrafas um pouquinho.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Sinal de vida!!!

Olá, anjos!
Como estão todos? Bem, eu estou maravilhosamente bem e com todo o gás para terminarmos esse conto até o fim desse mês... Aproveitarei as férias e adiantarei as postagens...
Aos que acompanham a "saga", peço-lhes que não deixem de comentar a CADA capítulo, pois o retorno de vocês é fundamental para construirmos o nosso "Você decide"... kkkkk
Avivemos as nossas memórias: já recuperaram o fôlego da cena entre Anyne e Lucas? Espero que sim porque ainda há muita coisa a chocar-lhes no decorrer desse conto intermediário. Digo intermediário porque, volto a falar, esse blog é meu laboratório de produção literária: a idéia é escrever três contos, que guardam alguma relação entre si, e publicá-los em livro. Em 2007, vocês leram AMOR VINCIT OMNIA (O amor vence tudo!), em 2008 estão lendo o atual conto e em 2009 teremos a última história... Já pararam para buscar correlações entre o conto do ano passado e o atual? Pois é, podem começar com as viagens criativas!
Ah, estou esperando também sugestões quanto às postagens... Quaisquer idéias são bem-vindas, em especial as idéias das meninas de Recife né, Claudinha?! Espero ler mais opiniões suas e de suas amigas...
Bem, é isso... rs... Só passei pra dar sinal de vida, e dizer que voltaremos em breve e a todo vapor! Afinal, Alvorada NUNCA ESTEVE com tanto gás! kkkk