sexta-feira, 20 de março de 2009

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

Aos meus alunos do Pré-Vestibular Social Machado de Assis,
Em primeiro lugar, bem-vindos ao blog!
Aqui está o link do MANUAL da Editora Abril acerca do NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Deliciem-se:
http://www.atica.com.br/novaortografia/index_.htm
Anotem as dúvidas para a próxima aula (27/03/09)!
Bom fim de semana, pupilos!
Abs.
"Tio" Douglas (rs)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Análise da resenha sobre CREPÚSCULO do blog Lendo.Org

Caro André Gazola,

Após ler o seu texto sobre Twilight Saga e enviar-lhe aquele e-mail sobre a impossibilidade de comentar no seu blog, resolvi escrever-lhe esse correio.
Vou novamente apresentar-me para que, desde já, saiba que não se trata de nenhuma adolescente saindo da puberdade e que se apaixonou pelo Edward Cullen, desejando estar na pele da Isabella Swan. Tampouco sou um obcecado por uma obra a ponto de fechar os olhos para seus defeitos. Sou, diga-se de passagem, fanático pela literatura shakespeareana, mas não ponho o mestre de Stratford-upon-Avon num pedestal, como se o idolatrasse.
Meu nome é Douglas Lemos Monteiro dos Santos. Tenho 20 (vinte) anos e moro em Campos dos Goytacazes (norte do Estado do Rio de Janeiro). Curso Direito (7º período) na Universidade Fluminense (Faculdade de Direito de Campos) e também Relações Internacionais (5º período) na Universidade Candido Mendes. Em assim sendo, sou um universitário como você, e pretendo, a partir desse e-mail, debater com você (se me permite tal pronome de tratamento, já que temos a mesma faixa etária).
Sou formado (em curso particular) em inglês, espanhol, francês e latim. Termino esse ano italiano. Veja: não intenciono enviar-lhe um CV meu (rs), apenas quero apresentar-me como alguém que se dispõe a um debate acadêmico, o qual certamente interessa a nós dois, pois apesar de você ter detestado a série Crepúsculo, ainda assim esta lhe interessou (isso você tem que admitir, afinal, se do contrário fosse, você não haveria lido toda a série, correto?).
Para finalizar a introduction, sou professor há 8 anos (acredite! Rs). Trabalho com Português, Inglês, Espanhol, Francês e História. Amo, em primeiro lugar, a Língua Portuguesa e sou um apaixonado pela educação. Sou um pouco idealista a ponto de ainda ter esperanças de que seja essa a solução para os problemas de nossa nação.
Vamos ao que interessa...
Começaria com uma pequena citação do louvável filósofo francês Voltaire:
“Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei
até a morte o vosso direito de dizê-lo!”
Seria por demais leviano de minha parte se não houvesse, antes de fazer qualquer crítica, lido a seu respeito e vasculhado bastante o Lendo.org. Fique registrada aqui a minha admiração tanto pela iniciativa do blog como pelo conhecimento e maturidade do autor. Você, sem dúvidas, é um profissional de grande potencial e criatividade.
Pude perceber que é um homem de muita leitura e muito conhecimento de mundo. Seu blog é praticamente impecável! Suas abordagens vão da literatura clássica à contemporânea, o que também me chamou a atenção.
É uma pena que a resenha quanto às obras de Meyer fuja à toda a lógica coerente que você, por hora, apresentara em sua página virtual. Sua crítica, ainda que não seja de toda equivocada, parece um post que destoa em meio a tanta coisa bacana que você apresenta no blog.
Para início da abordagem, façamos uma análise... Em janeiro de 2008, viajei para Dublin (Irlanda), onde fiz curso de Inglês Avançado. Como requisito para aprovação final do curso, tive de dar uma palestra, uma aula sobre um tema que tivesse a ver com minha carreira. O assunto escolhido pelo professor (que era Ph.D.) foi Anarchism. Quase pirei quando ele me lançou tal desafio. Tive medo porque tenho conhecimento de História (devido a ambas as faculdades), mas não sou formado na área... Por fim, mandei um e-mail de lá para uma amiga, ex-professora minha, graduada e mestra em História, que me respondeu, salvando-me a vida (rs).
A primeira dica dela foi “Querido, Douglas, vamos começar com a seguinte orientação: os seres humanos traçam suas análises a partir de suas experiências de vida. Isso equivale dizer: são as nossas experiências que constroem, quase sempre, nossa visão de mundo. Digo isso porque não será fácil para você, num continente em que o poder estatal sempre teve uma significação mais consistente que a nossa, falar de uma doutrina filosófica que se opõem a qualquer forma de hierarquia, entende?”.
Farei minhas as palavras dela como início de minha discussão, querido! Em diversos pontos de sua resenha (sua não, da Kellen Rice), a crítica não apresentava nenhum argumento em si, apenas opinião pessoal sem embasamento científico (vale lembrar que seu blog se propõe a ter o status de um estudante universitário, certo?!).
Vale registrar também que você respondeu ao último leitor do blog que o texto original não é seu, mas que era uma tradução de Rice incluindo algumas opiniões suas. Bem, para quem domina a língua inglesa e se dispõe a ler o original na íntegra e fazer as devidas comparações, verá que praticamente não há opiniões suas! Há, na verdade, uma tradução, não tão bem feita, e uma única mudança praticamente: Rice fecha a análise dando graças a Deus pelo fim da série, enquanto você se lamenta pelo lançamento de Midnight Sun. Ora, não estivesse o link do texto em Inglês disposto no início, diria eu que você violou direitos autorais. Se bem que, com ou sem ele, você ainda usou do texto como se seu fosse ao passar até os adjetivos para o masculino (“estou horrorizado!” etc). Isso não foi elegante para um estudante universitário!
Uma vez que você é aluno de 5º período de Letras, deve ter estudado, ainda mais do que eu, o que chamamos de falácias. Refiro-me àqueles erros intencionais de raciocínio, que se diferenciam, nesse sentido, dos sofismas. Pois bem, seu texto é amplamente falacioso! Erros (intencionais) de raciocínio estão por toda a parte! Talvez a mais comum tenha sido a falácia conhecida como “petição de princípios” ou “raciocínio circular”.
Explico-me: “Quando a “justificativa” é muito longa, podemos nos perder e não notarmos que a pessoa acabou não dando evidências para aquilo que disse.” (Extraído de http://ateus.net/artigos/ceticismo/falacias_e_erros_de_raciocinio.php)
Outra falácia que o texto apresenta é o ataque pessoal (ad persona). Uma boa redação acadêmica deve apresentar pontos falhos de uma obra, e não atacar o autor da mesma. A menos que seja de sua intenção, um aluno de graduação, fazer ofensas a uma professora universitária, Ph.D., formada em literatura inglesa pela Brigham Young University. Ah, a propósito: Crepúsculo é o livro do ano da Publishers Weekly e primeiro lugar na lista dos mais vendidos do The New York Times.
Há também, na resenha de Rice, André, argumentos personalíssimos! Dizer que Crepúsculo apresenta uma tendência machista é apresentar como argumento literário uma opinião pessoal bastante questionável. Poderia eu dizer também que Machado de Assis criou um estereótipo em Dom Casmurro: toda mulher dotada de beleza e sagacidade é adúltera e todo bom homem ficará com o eterno e doloroso questionamento de “Ser corno ou não ser: eis a questão!”. Entretanto, discordo de tal visão: todos sabemos que Dom Casmurro é uma obra-prima do fundador da Academia Brasileira de Letras! Capitu e seus olhos de ressaca jamais agregariam tal carga de machismo à literatura machadiana!
Se forçássemos ainda a discussão e a extendêssemos à inolvidável Romeu e Julieta, atrever-nos-íamos em dizer que a doce Capuleto apresenta-se terrivelmente submissa ao ilustre mancebo Montequio! Ora, nossa querida Julieta prefere condenar sua alma à eternidade do inferno pelo pecado mortal do suicídio a ter de viver sem a sua metade da laranja... Caro André, você por acaso encontraria embasamento acadêmico-literário para defender tal tese?
Ou ainda, quem sabe, poderíamos confundir, novamente, amor incondicional com guerra dos sexos se partíssemos para a literatura francesa: que tal brincarmos com O Conde de Monte Cristo? Edmond Dantes, o jovem marinheiro preso injustamente no dia de seu matrimônio, faz mulher a bela e apaixonada Mercedes antes do cerimônia nupcial! Oh, céus! E eu que pensava que a francesinha era inocente e pudica... Seria o romance de Alexandre Dumas mais um exemplo de amor sem reservas ou uma cruel tentativa de perpetuar valores de uma sociedade machista?
O estudo da História me ajudou a ter algumas respostas... Permita-me compartilhar algumas delas contigo! Quando trabalhei Literatura Brasileira num cursinho pré-vestibular há dois anos, usava sempre a História como irmã do conhecimento literário... O aluno de Literatura compreende melhor a análise do texto e da escola literária se tiver em sua tela mental o momento histórico referente ao tema discutido. Isso, obviamente, você sabe bem... Até melhor do que eu, após tantos debates acadêmicos de criação e estudo literários!
A passagem da Idade Média para a Idade Moderna, colocando o elemento humano não apenas como ponto nodal do conhecimento científico mas como medida de todas as coisas que existem (e tomam consciência da própria existência a partir e através do ato de pensar, com a devida venia cartesiana), tal mudança deixou marcas irreversíveis na história da humanidade... Em primeiro lugar, o Humanismo e Renascimento deram ao homem a certeza de que ele, e não theos (o todo-poderoso), daria resposta para o mundo em que ele vive.
O ser humano começa, então, a conceber que ele é o tal... “É nóis na fita!” – como diriam os meus alunos pré-vestibulandos... Para dar ainda o golpe de misericórdia, tem-se, no século XVIII, o Enlighment: o Iluminismo ou o Século das Luzes... A razão surge como elemento explicador da realidade! A racionalidade é a resposta para como o homem do Renascimento iria apresentar soluções para o seu entorno que não pelo viés teológico.
Bonito né?! Não... Não há nada de belo se entendermos que, com tanta exaltação ao próprio umbigo, o homem perdeu a capacidade de sonhar... Perdeu a habilidade de amar sem reservas! Dificilmente nos dias atuais veremos uma produção literária que perpassa os séculos com tanta vivacidade como Romeu e Julieta...
O que me encantou na obra de Stephenie Meyer foi, a priori, o sentimento que existe entre Isabella Swan e Edward Cullen. Deve ser difícil, André, para algumas pessoas entender o fato de o vampiro “vegetariano” tentar e não conseguir ficar longe da atrapalhada filha do policial Charlie e da histérica Renée. Entender o porque de algumas páginas de Lua Nova apresentarem apenas o nome dos primeiros meses em que Bella esteve longe do seu amado. Recurso que, diga-se de passagem, eu achei inteligentíssimo!
Há uma coisa que incomoda a alguns leitores de Crepúsculo: a troca energética entre o casal principal é de tamanha amplitude que viver um sem o outro é um exercício sobrehumano. E olha que Edward nem humano é, e ainda assim viver sem o seu amor não é uma habilidade que lhe assiste! Cullen consegue ler mentes e correr numa velocidade incalculável, mas não consegue viver sem uma rélis mortal... Deve ser irrisório tal fato para alguém com uma visão tal negativa da vida, não é, André?
A relação de Bella e Edward é tão encantadora que, por diversas vezes, um prefere tomar atitudes que não lhe agrada tanto porque ver o outro sofrer lhe doeria mais... Isso tem um nome, caros leitores: AMOR! Quando se ama de verdade, você vira segundo plano em sua própria vida, porque a felicidade do outro lhe é mais importante... Ah, e isso não é submissão, não é machismo, não é renúncia à própria vida: é viver em plenitude!
Pena que o golpe de misericórdia do Iluminismo impeça a tantos, dois séculos depois, de enxergarem a integridade da vida. Distorceram até a palavra: misericordia, do latim “trazer para perto do coração”. Palavra tão bonita e tão esquecida...
Nessas horas entristeço-me com o fato de as graduações cada vez terem menos carga de humanidades... Filosofia, sociologia, política... Estão desaparecendo dos cursos superiores! Que pena! Questiono-me que tipos de profissionais estão se formando...
Com o devido respeito, admiração e insuspeitosa decepção, despeço-me...
Campos dos Goytacazes, 26 de fevereiro de 2009.

Douglas Lemos Monteiro dos Santos