quarta-feira, 20 de julho de 2011

Os delírios do amor e da paixão

Cansei. Cansei das definições banais acerca do AMOR. Friozinho na barriga, coração disparado, ansiedade do (re)encontro, fixação de pensamentos e espera do contato no dia seguinte não são facetas do AMOR. Tais irracionalidades juvenis são meros desdobramentos de um outro sentimento: PAIXÃO. Esta sim é arrebatadora, é instintiva, é, de fato, irracional.
De hoje em diante, sustento que o AMOR é racional. Ele não tem nada de histeria, de palpitação e tampouco de feedback orgásmico. Este último é talvez a mais interessante característica da PAIXÃO: a sensação de felicidade repentina, de euforia descompassada ou de regozijo a curto prazo. Por sua vez, o AMOR constitui um verdadeiro altruísmo egoísta. Isso porque a PAIXÃO é um constante querer ser, enquanto o AMOR é um cruel e voluntário deixar de ser.
PAIXÃO é consultar a tela do celular diversas vezes, porque tal sentimento se respalda no ser desejado, ser cortejado, ser o foco dos pensamentos do outro. Traduz-se na indagação: "Pensa em mim da mesma forma?". AMOR é enviar a mensagem: "Tem alguém pensando em você.", porque este se sustenta no inelutável desespero de desejar, de cortejar e de ter um foco em seus pensamentos. Esperar a mensagem é PAIXÃO, visto que ela é o escopo de tornar-se em... Enviar a mensagem, contudo, é AMOR, na medida em que este tem o fim de desconstrução criativa, ou, dito de outro modo, o consciente "servir a quem vence, o vencedor".
Estar apaixonado é, pois, rejuvenescer, posto que nos prestamos a cada papelão que só os adolescentes teriam a ousadia de experimentar... Apaixonar-se é regredir à deliciosa fase da vida em que cremos ser capazes de tudo (ou quase tudo). Por sua vez, estar enamorado é envelhecer, porquanto traz em si um papo de gente velha: "Lembra quando a gente...?". Enamorar-se é avançar à incrível fase saudosista da vida, em que aprende a valorar tudo: pessoas, sentimentos, situações...
No entanto, PAIXÃO e AMOR revelam-se lados de uma mesma moeda. Talvez aí esteja um dos maiores segredos dos bons relacionamentos: apaixonar-se a cada dia e enamorar-se a cada noite. Isto porque toda PAIXÃO carrega um irrefutável anseio em se tornar AMOR. Já este não receia em demonstrar sua vontade de se despir e se converter em PAIXÃO. E este ciclo é o que se conhece como RELACIONAMENTO.
Tudo que o AMOR deseja é aprender com a PAIXÃO a perder a cabeça, a entregar-se de forma despreocupada, a revelar-se frágil e indefeso, pois a carência é a marca registrada da PAIXÃO, daí o seu escopo em querer ser, para construir seu "porto seguro". Tudo que a PAIXÃO deseja é aprender com o AMOR a esperar a hora certa, a ter controle sobre si mesma e colocar-se em segundo plano, pois a renúncia é a marca registrada do AMOR, daí o seu escopo em deixar de ser, para que o outro seja por você e, assim, a sua felicidade também se completa.
Problemas começam a surgir quando PAIXÃO e AMOR se dissociam. "Tem gente que machuca os outros, tem gente que não sabe amar...". PAIXÃO sem AMOR é uma infante inconsequente, uma menina arteira... Nas palavras de Nana Caymmi, "no fundo é uma eterna criança, que não soube amadurecer...". AMOR sem PAIXÃO é um ancião rabugento! Segundo Caymmi, "amores terminam no escuro, sozinhos"...
Por derradeiro, a perfeita união entre AMOR e PAIXÃO é a única capaz de ensinar aos seres humanos o verdadeiro significado da felicidade. Aí sim poderemos parafrasear Shakira ao dizer que "caminhar fica chato quando se aprende a voar...".